NOVO PAPA – TUDO QUE VOCÊ PRECISA SABER LEÃO XIII: QUEM FOI E QUAIS OS MARCOS DO SEU PAPADO
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- 12 de mai.
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LEÃO XIII: QUEM FOI E QUAIS OS MARCOS DO SEU PAPADO
Nome Leão XIII foi escolhido por Gioacchino Pecci em 20 de fevereiro de 1878. Seu papado durou 25 anos e ficou marcado pela "fundação" da Doutrina Social da Igreja e pela exaltação do rosário.
O cardeal Robert Francis Prevosdt foi eleito nesta quinta-feira (8) e será conhecido a partir de agora como Leão XIV. Antes do americano, foi Gioacchino Pecci, em 1878, o último a escolher o nome Leão como marca do papado.
"Leão" foi escolhido por mais de uma dezena de papas principalmente em referência a São Leão Magno, o primeiro a adotar o nome e que ficou conhecido pela liderança espiritual, defesa da doutrina, ações diplomáticas decisivas - como o encontro com Átila, o Huno - e por ser reconhecido como Doutor da Igreja.
QUEM FOI O PAPA LEÃO XIII?
O nome de Leão XIII foi escolhido pelo italiano Gioacchino Pecci em 20 de fevereiro de 1878. Na visão dos arquivos do Vaticano e historiadores, Leão XIII foi um papa inovador para sua época, buscando conciliar a tradição da Igreja com os desafios do mundo moderno, especialmente nas áreas social, filosófica e diplomática.

Seu pontificado é lembrado principalmente pela encíclica Rerum Novarum e pela abertura ao diálogo com a sociedade contemporânea.
Ao longo de mais de 25 anos de papado, Leão XIII ficou marcado por diversas ações e iniciativas importantes:
1. Defesa da Doutrina Social da Igreja
Publicou a famosa encíclica Rerum Novarum (1891), que abordou a questão operária, os direitos dos trabalhadores e a justiça social. Este documento é considerado o marco inicial da Doutrina Social da Igreja.
❓O QUE É A DOUTRINA SOCIAL? A Doutrina Social da Igreja é o conjunto de princípios morais e sociais formulados a partir do Evangelho e da tradição católica para orientar a atuação da Igreja e dos fiéis diante de temas como trabalho, propriedade, justiça econômica, participação política e dignidade humana.
No artigo "O legado histórico de Leão XIII e da encíclica Rerum Novarum", o historiador José Miguel Sardica, professor catedrático da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, atribui a Leão XIII a fundação institucional e teórica da Doutrina Social da Igreja.
Embora houvesse antecedentes, foi apenas com Leão XIII e a Rerum Novarum que a Igreja passou a se posicionar de forma sistematizada sobre os problemas sociais e econômicos, criando um corpus moral e teológico para interpretar e intervir sobre as realidades temporais.
Ainda segundo o historiador, o pontificado de Leão XIII marcou uma mudança de paradigma na atuação da Igreja frente ao socialismo e ao capitalismo. Sardica destaca que a Rerum Novarum rejeita ambos os extremos, propondo um caminho alternativo baseado na dignidade da pessoa, no papel moderador do Estado e na justiça social, o que representava um novo posicionamento da Igreja diante das ideologias do século XIX.
2. Promoção do diálogo com o mundo moderno
Procurou aproximar a Igreja das questões contemporâneas, incentivando o estudo das ciências e a abertura ao pensamento filosófico moderno, especialmente com a valorização de Tomás de Aquino.
Leão XIII foi o primeiro papa a aceitar pragmaticamente a perda dos Estados Pontifícios e, segundo Sardica, optou por uma atuação centrada na autoridade espiritual e intelectual, em vez da autoridade política, o que lhe deu liberdade para propor um novo modelo de atuação da Igreja na sociedade moderna.
De acordo com análise do teólogo e professor João Décio Passos (PUC-SP) no artigo "“Ensino superior e magistério da Igreja. A meta da verdade e o método do diálogo”", Leão XIII foi o primeiro pontífice a iniciar um "diálogo oficial" entre a Igreja e o mundo moderno.
Esse esforço ocorreu em duas frentes: a afirmação da dignidade humana nas relações sociais (encíclica Rerum Novarum) e o resgate da escolástica tomista como instrumento de pensamento e abertura ao conhecimento moderno (encíclica Aeterni Patris).
Segundo o pesquisador, o resgate de Tomás de Aquino serviu como estrutura conceitual para reafirmar que fé e razão não se contradizem, mas podem colaborar na busca da verdade.
3. Reforma e incentivo ao estudo
Leão XIII promoveu reformas significativas no sistema educacional católico. Ele incentivou o estudo da filosofia tomista e reformou o ensino nos seminários e universidades católicas para fortalecer a formação intelectual e espiritual do clero e dos leigos. Essas reformas visavam preparar a Igreja para enfrentar os desafios do mundo moderno com uma base sólida em tradição e razão.
4. Relações diplomáticas
Durante seu pontificado, Leão XIII trabalhou para restaurar e fortalecer as relações diplomáticas da Santa Sé com vários países, após as tensões do século XIX. Ele buscou estabelecer uma presença diplomática mais ativa, reconhecendo a importância da diplomacia para a missão global da Igreja. Esse esforço contribuiu para a expansão da influência da Santa Sé no cenário internacional.
5. Valorização do Rosário
Leão XIII também ficou conhecido como o "Papa do Rosário" por ter escrito doze encíclicas sobre o tema entre 1883 e 1898. Essas encíclicas, como Supremi Apostolatus Officio (1883) e Laetitiae Sanctae (1893), destacam a importância do Rosário como instrumento de fortalecimento da fé e meio de contemplação dos mistérios da vida de Cristo. Ele incentivou a prática do Rosário como resposta espiritual aos desafios de sua época.
❓O QUE É O ROSÁRIO? O Rosário é uma tradicional forma de oração devocional da Igreja Católica que combina a repetição de orações – como o Pai-Nosso e a Ave-Maria – com a meditação de episódios centrais da vida de Jesus Cristo e da Virgem Maria, chamados de “mistérios”.
ROBERT FRANCIS PREVOST, O LEÃO XIV, É O PRIMEIRO PAPA AMERICANO DA HISTÓRIA
Aos 69 anos, ele é também o 1º pontífice vindo de um país de maioria protestante. Prevost construiu grande parte de sua trajetória na América Latina, especialmente o Peru. De perfil discreto, ele evita holofotes e é tido como reformista, alinhado ao papa Francisco.
Robert Francis Prevost, de 69 anos, tornou-se o primeiro papa americano da história da Igreja Católica e o primeiro vindo de um país de maioria protestante. Eleito no conclave encerrado nesta quinta-feira (8), escolheu o nome de Leão XIV.
É visto como um reformista, alinhado à linha de abertura implementada por Francisco. Tem formação sólida em teologia e é considerado um profundo conhecedor da lei canônica, que rege a Igreja Católica. Juntou-se à ordem dos agostinianos em 1985, já no Peru. Os devotos de Santo Agostinho compõem uma ordem mendicante, a exemplo dos franciscanos e dos dominicanos.

Qual é a origem do novo papa?
Nascido em Chicago, em 14 de setembro de 1955, Prevost construiu grande parte de sua trajetória religiosa na América Latina, especialmente no Peru. Foi lá que se destacou até alcançar os cargos mais altos da Cúria Romana. Entrou para a vida religiosa aos 22 anos. Formou-se em teologia na União Teológica Católica de Chicago e, aos 27, foi enviado a Roma para estudar direito canônico na Universidade de São Tomás de Aquino.
Foi ordenado padre em 1982 e, dois anos depois, iniciou sua atuação missionária no Peru — primeiro em Piura, depois em Trujillo, onde permaneceu por dez anos, inclusive durante o governo autoritário de Alberto Fujimori. Prevost chegou a cobrar desculpas públicas pelas injustiças cometidas no período.
Em 2014, foi nomeado administrador da Diocese de Chiclayo, no Peru, cargo em que foi ordenado bispo e permaneceu por nove anos. Nesse período, enfrentou a principal crise de sua trajetória: em 2023, três mulheres acusaram Prevost de acobertar casos de abuso sexual cometidos por dois padres no Peru, quando elas ainda eram crianças.
Qual função Prevost ocupava na Igreja? Ao ser eleito, ocupava duas funções importantes no Vaticano: prefeito do Dicastério para os Bispos — órgão responsável pela nomeação de bispos — e presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina.
Quais as primeiras palavras de Leão XIV?
"Quero que essa saudação de paz entre no coração de vocês, a todas as pessoas", disse Leão XIV, em sua primeira saudação. "Deus ama a todos, e o mal não prevalecerá."
Ele usou o início de seu discurso para homenagear seu antecessor, papa Francisco, a quem agradeceu. Ele diz que quer "prosseguir com a bênção" do argentino. "Sou um filho de Santo Agostinho. Um agostiniano", afirmou, indicando um possível caminho para seu papado.
Em meio ao discurso, ele trocou o italiano para o espanhol e agradeceu o seu episcopado em Chiclayo, no Peru, onde passou boa parte de sua carreira eclesiástica. Ele encerrou sua primeira mensagem aos fiéis na Praça São Pedro com a oração da Ave Maria.
COMO FOI A ELEIÇÃO?
A eleição de um novo pontífice também seguiu a tendência das duas eleições de papa anteriores, em 2005 e 2013, e ocorreu no 2º dia do conclave. Desta vez, havia a expectativa inicial de que o processo demorasse mais por conta do número de cardeais votantes — 133, contra 117 no conclave anterior. A eleição do novo pontífice veio após uma fumaça preta ainda na manhã desta quinta-feira e outra na rodada inicial, na quarta. A escolha do novo papa ocorre também 17 dias após a morte de Papa Francisco, por conta de um por conta de um AVC e insuficiência cardíaca em sua residência no Vaticano. Embora tenham sido episódios inesperados, ocorreram em um momento de saúde frágil de Francisco. Em um papado de 12 anos, Francisco promoveu reformas históricas e aproximou a Igreja de um catolicismo mais próximo aos fiéis, que são mais de 1,3 bilhão de pessoas pelo mundo mas que vêm diminuindo gradualmente. A fuma branca também encerra oficialmente o chamado período de Sé Vacante, em que o "trono" da Igreja Católica fica sem um líder entre a morte de um pontífice e a eleição do sucessor. Agora, um novo papado se iniciará e indicará se o Vaticano tem a intenção de seguir, ao menos parcialmente, ou ainda avançar na agenda de Francisco.
Matéria: Eduardo Oliveira
Imagens: Vaticano



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