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PROFISSIONALIZAÇÃO E PLANO DE CARREIRA

  • Foto do escritor: PONTO NEWS
    PONTO NEWS
  • há 12 horas
  • 6 min de leitura

Como o futebol inglês revolucionou a arbitragem. Há 24 anos, as maiores ligas da Inglaterra se uniram a Federação Inglesa para criar a PGMOL (Professional Game Match Official Limited – Jogo Profissional Partida Oficial Limitada), programa que institucionaliza a função dos árbitros e oferece mentorias e desenvolvimento. Marcações polêmicas, críticas, falta de critério, demora para tomar decisões. Há alguns meses, o Brasil vive a ebulição de debates sobre o tema arbitragem. Do outro lado do oceano, em um dos torneios de futebol mais prestigiados do mundo, a melhoria para esse problema veio há mais de 20 anos. Em 2001, a Federação Inglesa se uniu às maiores ligas do país para fundar a Associação dos Árbitros Profissionais de Futebol da Inglaterra, PGMOL na sigla em inglês. Os ingleses foram os primeiros a ter árbitros profissionais na Primeira Divisão. Além de institucionalizar o grupo, o projeto formalizou a função e criou uma rede de infraestrutura tão completa quanto a de um clube. “Há um nível mais elevado de profissionalismo em todas as etapas dentro da PGMOL. As exigências do futebol moderno sobre os árbitros são enormes. Hoje eles estão mais bem preparados do que nunca. Conhecem mais sobre o jogo taticamente, têm uma percepção maior. O maior elogio que posso fazer é que eles se parecem com jogadores”, disse Chris Foy, ex-árbitro da Premier League ao Globo Esporte. A origem: A ideia para a criação da PGMOL era unificar os árbitros com o objetivo de melhorar as condições para eles, mas também para o futebol de modo geral. Antes da Associação existir, o sistema funcionava como no Brasil: os árbitros não tinham na arbitragem uma profissão formal. Recebiam por jogo, como em uma espécie de “freelancer”, autônomos, e muitos conciliavam as partidas com outros empregos, já que não conseguiam ter a arbitragem como única fonte de renda. Chris Foy, ex-árbitro que conversou com o Globo Esporte, apitou por 15 anos na liga mais disputada da Europa e outros cinco na Segunda Divisão inglesa, além de ter sido um dos primeiros a se associar à PGMOL.

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Imagem: Jay Barratt - AMA/Getty Images

Contou que viveu na pele a dificuldade de conciliar um trabalho “formal” e as demandas da vida pessoal com o sonho de viver da arbitragem. “Tendo atuado como árbitro por anos na Football League (Segunda Divisão da Inglaterra), eu tinha um emprego em tempo integral, trabalhando a semana toda, e lutava para conciliar os treinos, as viagens de sexta-feira à noite para um jogo no sábado. Tinha o domingo de folga e voltava ao trabalho normal na segunda. Acho que as competições perceberam isso, que o futebol exigia mais profissionalismo porque o jogo estava evoluindo muito rapidamente”, explicou. O contexto do futebol inglês antes da PGMOL era de transição. No início dos anos 2000, a Premier League, a English Football League (EFL, a Segunda Divisão) e a Federação Inglesa (FA) chegaram ao consenso de que as ligas precisavam melhorar os padrões de arbitragem para acompanhar a evolução. Essas 3 esferas são responsáveis por financiar a PGMOL, enquanto ela é responsável pelo treinamento, desenvolvimento e mentoria de 162 árbitros e 350 árbitros assistentes, 36 desses 512 profissionais são registrados na FIFA (Federação Internacional das Associações de Futebol).

A criação da organização também possibilitou que os árbitros recebam salários fixos referentes às suas funções e possam cumpri-las em tempo integral, como um emprego tradicional. Eles ainda possuem uma taxa de pagamento por cada jogo apitado. Categorias e rotina de desenvolvimento: A primeira iniciativa foi criar divisões baseadas na experiência e nos desempenhos, tanto para árbitros quanto para assistentes. O “Select Group 1” reúne os mais experientes, responsáveis predominantemente pelos jogos da Premier League, e também possui a categoria feminina. O “Select Group 2” apita a Championship, a Segunda Divisão inglesa, e o “National Group” fica com a Terceira e Quarta divisões. Ainda há o “Development Group”, que oferece oportunidades de ascensão na carreira de arbitragem, através das mentorias da PGMOL. Originalmente, era apenas o grupo de elite, mas com o passar dos anos a instituição percebeu a necessidade de expandir. Os que performam melhor consequentemente são mais escalados e atuam nos maiores confrontos. Aqueles que cometem mais erros e não conseguem acompanhar o ritmo podem ser rebaixados para grupo inferiores. “É como um programa de desenvolvimento de elite. Para que os jogadores e os árbitros tenham idades mais próximas e também condições físicas mais próximas. Acho que tudo isso tem sido muito útil. Ajuda a criar uma situação em que podemos colocar os árbitros mais promissores nos melhores jogos o mais rápido possível. Essas mudanças elevaram o nível das cinco principais ligas da Inglaterra”, afirmou Nathan Sherratt ao Globo Esporte.

Nathan é diretor do The Third Team, uma empresa que oferece ensino e suporte mental para arbitragem, e também trabalha como árbitro semiprofissional. Na conversa com o Globo Esporte, ele disse saber um pouco sobre a arbitragem brasileira, pois conheceu e conversou com Anderson Daronco em um congresso internacional. Ele contou que a PGMOL possui um programa completo de infraestrutura, muito parecido ao que é oferecido por um clube de futebol. Confira a rotina de um árbitro na pré-temporada da Inglaterra:

Entre os benefícios estão o acompanhamento com cientistas do esporte, psicólogos, analistas de desempenho, assistentes operacionais, fisioterapeutas e nutricionistas. Além de acessos à estruturas como academias, saunas e aparelhos de recuperação. A PGMOL também oferece auxílio tecnológico por meio de uma parceria com a empresa Opta, que fornece estatísticas individuais de cada partida. “É muito bom ter uma rede de suporte que nos ajuda a lidar com a pressão e com as críticas, com o time de psicólogos. As vezes pode ser um pouco assustador, principalmente se você é novo na Premier League. Porque nada te prepara tanto para a magnitude de estar envolvido em decisões tão grandes no início e com o que vem a partir disso”, contou John Brooks, árbitro da Premier League e membro do Grupo Seleto desde 2021, ao canal oficial da PGMOL.

Alguns árbitros das categorias inferiores ainda se dividem com outras funções fora do futebol. Eles também têm acesso às vantagens da PGMOL, mas ainda dependem de outros trabalhos e vivem da arbitragem em meio período. Feedbacks e acompanhamento individual: Outro diferencial da PGMOL, de acordo com Nathan e Chris, são os encontros de análise. Os árbitros membros passam por uma avaliação de painel, uma equipe composta por membros independentes, entre eles ex-jogadores e treinadores, além de um representante da Premier League e outro da instituição. As sessões envolvem analisar vídeos das partidas para entender as ações da arbitragem nos jogos, o que está funcionando e o que pode melhorar, física e tecnicamente. Os encontros são semanais e também possibilitam que os árbitros entendam melhor o jogo e até aprendam novas maneiras de interpretar as tomadas de decisão. Os árbitros também possuem um “treinador” individual, que personaliza o acompanhamento. A ideia é que esse sistema seja um complemento às reuniões coletivas, para juntar o máximo de informações possíveis. Assim, os árbitros da PGMOL entendem em que podem melhorar, quais são seus pontos fortes e no que se preocupar para as próximas partidas. “Nos campos de treinamento, eles compartilharão as melhores práticas e discutirão os aprendizados para os próximos jogos. Então, se você foi escalado para jogar na Premier League, você está pronto. Você está sintonizado. Você sabe o que se espera de você. Não é uma surpresa, então é uma transição tranquila e algo que eu acho que funciona muito bem”, destacou Chris Foy.

A PGMOL ENCERROU AS CRÍTICAS SOBRE ARBITRAGEM?

Os 2 entrevistados acreditam que a criação da PGMOL trouxe grandes benefícios para o futebol inglês e para os árbitros, por possibilitar que os árbitros se preparassem melhor. Segundo eles, a instituição permitiu que a arbitragem acompanhasse a evolução do jogo. Por outro lado, concordam que ela não foi capaz de de dar fim as discussões acerca das decisões do jogo, e nem seria possível. Ambos acreditam que as críticas fazem parte de toda disputa e compõe o duelo de maneira saudável, até certo ponto. “Não acho que isso jamais acontecerá, porque acredito que essa é a natureza do futebol. Acho que você pode fazer o que quiser. Pode implementar o VAR, pode ter um grupo de árbitros profissionais. Pode implementar o impedimento semiautomático no jogo. Sempre haverá debates e acho isso saudável, desde que não ultrapassem os limites e se tornem discriminatórios, ofensivos, insultuosos, abusivos e tudo mais, porque, no fim das contas, o motivo pelo qual amamos o futebol é porque é um jogo de opiniões”, enfatizou Sherratt. “Seja no futebol amador ou no profissional, os árbitros tomam cerca de 300 decisões por jogo. No nível profissional, os erros são ainda mais evidentes, e eu diria que as redes sociais têm um grande impacto nisso, mas os árbitros cometem erros, como todos os participantes do jogo. Seres humanos cometem erros. A questão é como você lida com isso e como minimiza os erros. Os árbitros são mais responsáveis hoje do que nunca. Eles realmente se importam com o seu desempenho”, comentou Chris Foy.

 

Adaptação: Eduardo Oliveira

Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro

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